A Organização Mundial de Saúde (OMS) contabiliza quase 600 ataques contra hospitais e unidades médicas na Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o movimento palestiniano Hamas, anunciou, esta sexta-feira, em comunicado a agência da ONU.
Desde 7 de outubro de 2023, segundo a plataforma ‘online’ da OMS, que regista ataques aos cuidados de saúde, “mais de 550 instalações médicas e veículos foram afetados nos quase cem dias desde que os constantes ataques aéreos israelitas começaram em Gaza”.
Os ataques, diz o comunicado, deixaram 26 hospitais danificados, de um total de 36 no enclave palestiniano.
Em resultado do conflito na Faixa de Gaza, devastada por uma vasta operação militar israelita há quase três meses, a OMS destaca que os dados mais recentes identificam 613 mortos em instalações clínicas e mais de 770 feridos.
“A redução contínua do espaço humanitário e os contínuos ataques aos cuidados de saúde estão a levar o povo de Gaza ao ponto de rutura”, afirma o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, citado no comunicado.
Segundo a organização, as crianças na Faixa de Gaza enfrentam “uma tripla ameaça mortal às suas vidas”, traduzida pelo aumento de casos de doença, desnutrição e escalada das hostilidades militares.
Milhares de crianças já morreram devido à violência, prossegue a OMS, avisando para a degradação rápida das condições de vida no território palestiniano, com casos crescentes de diarreia e aumento da pobreza alimentar, e ainda subida do risco de mortes infantis.
A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertou hoje em comunicado que mais de 1,1 milhões de crianças na Faixa de Gaza estão em risco de vida devido ao aumento de doenças evitáveis e à falta de água e alimentos, pedindo mais ajuda e um cessar-fogo humanitário.
As crianças na Faixa de Gaza “estão presas num pesadelo que piora a cada dia que passa”, segundo Catherine Russell, diretora-executiva da Unicef.
A subnutrição aguda é crítica, sobretudo para mais de 135.000 crianças com menos de dois anos e acima de 155 mil grávidas e lactantes, dadas as suas necessidades nutricionais específicas e vulnerabilidade, de acordo com a organização.
Lembrando que o conflito destruiu sistemas essenciais de água, de saneamento e de saúde na Faixa de Gaza e que as crianças e famílias deslocadas não conseguem manter os níveis de higiene necessários para prevenir doenças, a Unicef advertiu que a falta de água potável e saneamento “são alarmantes”.
Paralelamente, os poucos hospitais em funcionamento estão focados em responder ao elevado número de feridos pelo conflito e não conseguem tratar adequadamente os surtos de doenças.
“Os casos de diarreia em crianças aumentaram 50% em apenas uma semana”, referiu a Unicef, adiantando que os doentes com menos de cinco anos aumentaram de 48.000 para 71.000 na última semana de dezembro.
Isto “equivale a 3.200 novos casos de diarreia por dia”, alertou a organização, que destacou ainda que 90% das crianças com menos de dois anos estão sujeitas a uma situação de “pobreza alimentar grave”, segundo o Quadro integrado de classificação da segurança alimentar (IPC).
Num comunicado divulgado por Eri Kaneko, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), é descrito que “o ambiente operacional e a capacidade de resposta continuam a ser prejudicados por riscos de segurança, restrições de mobilidade, atrasos e recusas”.
O comunicado menciona “múltiplas fiscalizações, longas filas de camiões e dificuldades nos pontos de passagem”, que continuam a complicar as operações, enquanto, no interior da Faixa de Gaza, “as operações de ajuda enfrentam bombardeamentos constantes, com os próprios trabalhadores humanitários a serem mortos e algumas caravanas alvejadas”.
Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) disse, por sua vez, que o número total de funcionários mortos desde o início das hostilidades é de 142.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro, massacrando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis mas também cerca de 400 militares, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 22.000 pessoas — na maioria mulheres, crianças e adolescentes — e feridas acima de 57 mil, também maioritariamente civis.
O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) lançou hoje um apelo urgente de 69 milhões de dólares (63 milhões de euros) para apoiar a sua resposta às “crescentes e críticas necessidades humanitárias” nos territórios palestinianos ocupado
Num comunicado, a OIM afirmou que “centenas de milhares de civis precisam desesperadamente de ajuda”, que continua a ser dificultada por “longos procedimentos de autorização de camiões de ajuda humanitária na fronteira e pela intensa operação terrestre e pelos combates”.
A “perturbação frequente” das redes de comunicação também impediu a coordenação da ajuda humanitária, “juntamente com a insegurança, estradas bloqueadas e escassez de combustível”, afirmou a agência da ONU, dando ainda conta de 76 mil deslocados no sul do Líbano devido à deterioração das condições de segurança ao longo das zonas fronteiriças com Israel.