Que o desenvolvimento humano impactou profundamente todos os ecossistema, é um fato. Um estudo divulgado agora, no entanto, revela um dado preocupante sobre a profundidade dessas consequências: desde o pleistoceno, há cerca de 130 mil anos atrás, as ações humanas foram responsáveis por dizimar 1.430 espécies de aves – um número duas vezes maior do que se acreditava até agora.
A quantidade surpreendente, descoberta pelo Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido (UKCEH) e publicado no renomado periódico científico Nature Communications, representa cerca de 12% de todas as espécies de aves. “Nosso estudo demonstra que houve um impacto humano muito maior na diversidade aviária do que o reconhecido anteriormente”, afirma o pesquisador do UKCEH e autor do estudo, Rob Cooke, em comunicado.
O que causou essa extinção?
Fósseis e observações anteriores já haviam indicado a extinção de pelo menos 640 espécies de pássaros desde o pleistoceno, sendo 90% delas em ilhas não habitadas permanentemente por seres humanos. No entanto, a estimativa do grupo de pesquisa sugere que, entre espécies como Dodô das Maurícias, Grande Auk do Atlântico Norte e a Poupa Gigante de Santa Helena, mais 790 espécies podem ter sido extintas como consequência da atividade humana – 570 delas apenas no século XIV, após a chegada humana no Pacífico Oriental, como nas Ilhas Cooks e Havai.
O evento representa a maior extinção de vertebrados provocada por humanos em toda a história. “Os seres humanos devastaram rapidamente as populações de aves através da perda de habitat, da sobre-exploração e da introdução de ratos, porcos e cães que atacaram ninhos de aves e competiram com elas por comida”, diz Cook. “Mostramos que muitas espécies foram extintas antes dos registros escritos e não deixaram vestígios, perdendo-se na história.”
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Quais as consequências dessa perda?
As perdas de aves no passado tem consequências que duram até hoje e culminam na crise de biodiversidade observada atualmente. “O mundo pode não só ter perdido muitas aves fascinantes, mas também os seus variados papéis ecológicos, que provavelmente incluíram funções-chave como a dispersão de sementes e a polinização”, afirma o coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Gotemburgo, Søren Faurby. “Isto terá tido efeitos nocivos em cascata nos ecossistemas, pelo que, além da extinção de aves, teremos perdido muitas plantas e animais que dependiam destas espécies para sobreviver.”
Durante a século XVIII, com a maior exploração do Pacifico Ocidental, como as ilhas Canárias e Marina, a aceleração desse processo voltou a ocorrer e , de acordo com os autores, ainda pode estar em curso. Segundo um trabalho publicado por eles em 2020, no periódico Ecography, mais 700 espécies podem ser perdidas ao longo dos próximos séculos devido à agricultura, à poluição intensiva e às mudanças climáticas.
“Se outras aves serão ou não extintas, depende de nós”, afirma Cook. “A conservação recente salvou algumas espécies e devemos agora aumentar os esforços para proteger as aves, com a restauração do habitat liderada pelas comunidades locais.”
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